
Há muito que estou em falta com esta novela, ARAGUAIA, cuja exibição está quase a terminar aqui em Portugal. Mas será que alguém dá por ela?
Tenho de dizê-lo: é a pior trama que alguma vez já vi na vida!
É a pior coisa que já foi escrita, é uma vergonha, uma trampa!
Tudo visto, tudo previsível, muito inverosímel e prestações fracas como tudo! Diria até que são caricaturas em quinta mão daquilo que estamos cansados de ver em anos e anos de novelas e personagens da Globo.
A história fala sobre uma maldição índia que faz com que todos os homens de uma família acabem por morrer se viverem na região do Araguaia. O "mocinho" vítima desta maldição é Solano, interpretado por Murilo Rosa. Pelo meio há muitas (demasiadas) personagens secundárias de pouco interesse ou credibilidade, como a inocente Janaína, dona de armazém, que logo pela estampa não convence nada. Temos a palhaçada, muita palhaçada, que só faz patetices... e não há mais nada. As histórias na trama enrolam, enrolam, enrolam e não saiem do mesmo. Os pares românticos não passam a cumplicidade necessária e toda a exacerbada paixão de uns até se torna ri-dí-cu-la. Entram mais personagens mas o "embrulho" é igual. O espectador adivinha de imediato o que lhes vai acontecer e como vão agir. É uma tristeza!
Tudo é cliché e é contado com muita, muita fantasia. Nem fazer com que a mocinha da trama encontre um novo interesse romântico é feito de forma diferente: ela sempre tem de ter um acidente e cair do cava
lo! É um tédio, um INSULTO ao intelecto do espectador. Mas, para mim, o pior a apontar na trama é a forma como qualquer personagem que precise de descobrir algo importante para a trama consiga-o de imediato, como que por milagre! E é assim em relacção a tudo. Por exemplo: Mencionam pela primeira vez uma carta importante que tem a capacidade de esclarecer a verdade, mas a carta está desaparecida. Logo de seguida a empregada abre uma caixa e o que procuram está logo ali. Assim tão simples! Se forem precisas provas incriminatórias, elas surgem como que por milagre. É sempre assim e só reforça a bosta de trama!
A única gargalhada que dei foi quando Solano, interpretado por Murilo Rosa, ao conhecer o avô, diz o seguinte:
-"E você acha que eu lá tenho cara de (já) ter 30 anos?".

Ah,ah,ah! Claro que não! Parece muito passado dos 30, muito para lá dos 40 para ser sincera e, com os tratamentos anti-envelhicimento a prejudicarem as expressões do rosto, diria-se próximo dos 50! Mas está a fazer o papel de um afoito jovem de 20 e poucos... é claro que não convence. É como já disse: a estampa é pouco verosímel.
O seu par romântico peca pelo oposto: tem uma aparência demasiado jovem para conseguir convencer que é uma excelente veterinária e, dizendo a verdade, não conseguiu nada apanhar a personagem. Está mesmo mal. É um bocejo, não há beleza que nos agarre ao ecrãn, quando não nos transmitem substância.
E agora que já mencionei tudo o que acho de PIOR, vou falar do que realmente destaco pela POSITIVA.
Quando digo que uma interpretação é boa, quero dizer que o actor consegue conduzir a personagem com veracidade pelos altos e baixos da trama e não a perde na sua essência, mostra-a com autenticidade e alguma frescura. Neste sentido aponto três boas interpretações na novela Araguaia.
Começo por Cléo Pires. Nunca lhe reconheci nenhuma interpretação bem conseguida e isso mudou com Estela. É com satisfação que a vejo "domar" esta índia, fico muito contente! Cléo consegue fazer com que a personagem, que não é simples de interpretar devido à sua complexidade, esteja sempre coeren
te. "Estela" surge como uma rapariga simples e pobre, depois descobre-se que é índia e tem a missão de destruir a descendência de Solano, mas a maior dificuldade em interpretá-la é fazer com que pareça autêntica toda aquela palhaçada da sua relação com Solano. Ora a rapariga luta pelo amor dele, ora o perde, ora o recupera, ora o oferece a outra, volta para o reconquistar, reconquista-o e volta a dizer à rival para ficar com ele. Enfim: "Estela" já tem a sua complexidade de índia, dispensava ficar ainda mais complicada com esta relação amorosa. Ainda por cima deste amor dá-se uma gravidez, que só lhe retira a paz de espírito, já que a criança que espera é também aquela que jurou matar.
Mesmo que não tivesse que interpretar esta relação iô-iô com Solano, conseguindo sempre transmitir muita paixão (o mesmo não se passa com o par Milena e Murilo), a personagem já de si tem complexidades suficientes para esgotar a energia do seu intérprete.
Outra interpretação que achei uma presença forte e bem conseguida é a do jovem Luciano Scalioni, que faz de Bruno, o filho de Janaína. Gostei de ver a maturidade que deu ao papel, a autenticida
de. Tem também o actor que faz de "Julão" - quer dizer, um nome parecido a este. Como a sua personagem é muito secundá
ria, não aparece nos créditos que pesquisei, mas assim que o vi numa ou noutra cena passou muita segurança e eu acreditei no que estava a ver. É um peão que ajuda Solano a lidar com a plantação e os trabalhadores. A intérprete de Aspácia (Flávia Guedes) também tem muita graça, o que lhe dá graça. Thiago Fragoso teve momentos muito bons e fortes, embora não me convença nem um pouco que gosta de mulheres mais velhas! :)
De resto, e com todo o respeito por todos os envolvidos, respeito pelo esforço em fazer esta novela uma mega-produção, respeito pela história da região, respeito pelos actores consagrados, equipa técnica e até mesmo o autor, que muito desilude - não há nada mais que se destaque assim tanto pela positiva. Até as cenas de transição - as paisagens do Araguaia, principalmente a forma como quiseram passar a mensagem de que aquilo é um bom lugar para fazer turismo, essas então... arrepiam! São de mau gosto, vulgares. Lembram-se de toda a beleza paisagística e do poder de sedução das paisagens da novela "Pantanal"? Pois, Araguaia não tem nada a ver! É o oposto. As mulheres vão para a beira da água em trajes justos para, em contra-luz, fazerem um video-clip musical pretenciosamente erótico em que dão destaque às suas curvas. Filmam as motas de água a "infestar" as águas do rio, e toda aquela "turistada"... dá vontade de fugir! Não souberam dar destaque ao que realmente é importante - a beleza do lugar. Filmaram outras coisas e então foi isso que apareceu! (PS: aprendam com Pantanal, dirigida por Monjardim).
Fiquei triste ao ler numa revista uma notícia que até caíu como um apelo desesperado. Cléo Pires queixava-se de não ter emprego e de estar sem projectos em mão porque "não a convidavam". Fiquei triste porque, se até esta altura não soube de nenhuma queixa deste tipo, agora que, a meu ver, conseguiu subir de nível com a interpretação de "Estela", devia ser mais abordada com propostas. Mas a vida não é justa, não é?? E estas suas palavras - tenham sido realmente pronunciadas por ela e desta forma, ou não, são uma espécie de "tabu" de mau agoiro no meio. Um actor tem de fingir que tem sempre algo em vista. Isto é algo que se sabe, e eu entendo porquê: por vezes as pessoas dão mais valor às outras se estas parecerem ser mais requisitadas. Seja como for, a profissão de actor/actriz parece-me «tramada», porque exige muita luta, é preciso criar as próprias oportunidades, ter logo sorte e fazer muita presença para "vender" algo que não devia ser comercializado desta forma. É difícil, mas as coisas são como são.
Read more...