Tieta reprisada: impressões em 2025

 

Revendo a novela Tieta (1989/90) tenho de salientar algumas coisas: 


ABERTURA:

A primeira é a lufada de ar fresco por poder ver a abertura, que não sofreu nenhuma alteração ou foi substituída em prol da repressão e falsa moralidade dos dias de hoje. Vemos um corpo tal como os das estátuas mais elogiadas pelos apreciadores de arte e esse corpo conta uma história, a da Tieta. O que aparece, como aparece, como serpenteia... é uma lufada de ar fresco, realmente. ADORO. Quero mais aberturas assim: frontais, reais, sem pudismo mas com decoro. 

 ATUAÇÕES:

TIETA: 

Embora tenha imensa simpatia por Betty Faria, sempre achei que há momentos em que a "Tieta" devia agir e parecer de outra maneira. A reprise ainda me dá a mesma sensação. Sei que Betty é a maior responsável pela novela existir. Ela e a esposa de Jorge Amado, que foi o "cérebro" que primeiro pensou em fazer a obra do marido em novela. Mas sempre imaginei o que uma outra atriz faria em certos momentos com o papel. Gostava de ver outras atrizes a dar o seu cunho a esta personagem. A interpretação de Betty Faria será sempre aquela icónica, a base. Mas tem momentos em que quero ver algo explosivo, em que preciso de entender melhor Tieta, suas motivações e reações. E fica tudo pelo olhar e pelo dedilhar do colar...

O ROMANCE:

Fiquei surpresa ao ver que Lídia Brondi e Reginaldo Faria até tinham química como casal romântico. A história de amor puro, dramático... que ainda estou a acompanhar no episódio 45, promete muita história sobre a qual se deve refletir.

COSME:

O ator que interpretou Cosme, foi para mim, na altura, uma revelação. Acho que passou na perfeição o que a personagem era. Agora na reprise, a sensação é a mesma. Acho o ator soberbo no papel. Cada vez que aparece com "Cardo" ou outro personagem qualquer "rouba" a cena. E lamento não o ter visto mais. 

Hoje, com a internet, ficou fácil descobrir porquê: Faleceu seis anos depois, com um diagnóstico de aids que recebeu durante as gravações desta novela, Tieta. Que lamentável! Um talento que chegava ao centro do alvo, que não deixava nada por fazer como, aliás, é o que se vê em grande parte - senão todo o restante elenco: As beatas "Amorzinho" e "Cinira", a Dona Milú, Os quatro "cavaleiros do Apocalipse", "Tonha", "Esteves", "Elisa", "Coronel da Tapitanga", a magnífica "Aída" interpretada por Bete Mendes, a sua comparsa fofoqueira e hipocondríaca Juracy Pitombo (Ana Lúcia Torre) enfim... a lista é imensa porque é o elenco inteiro mesmo. Super bem afinado, entendendo muito bem as suas personagens e porquê fazem o que fazem e como o fazem. Até as personagens mais secundárias brilham nesta novela. Para mim, só mesmo a central, a principal, Tieta, é que devia ter outra forma de ter a sua história contada. Sinto-a como secundária, pouco protagonista, muito reverenciada e admirada mas... apagada. A "Tieta" do papel é muito mais sedutora e vivaça que a Tieta de Betty Faria.

OS MISTÉRIOS: A caixa BRANCA de Perpétua e a mulher de BRANCO

Acho que desfraldaram o público ao escolherem uma peruca e a mulher do comandante, Laura, como a resposta para estes mistérios. Vendo a reprise da novela ainda espero ver finais alternativos. Será? Para mim faz muito mais sentido a Perpétua guardar naquela caixa um dildo. Não precisa ser o orgão sexual do marido embalsamado. Acho que a reação das pessoas ao abrir a caixa seria de vómito imediato, pois não é uma coisa bonita de se ver. Para arregalarem os olhos, ficarem surpresos e afirmarem: "Perpétua... quem diria?" - tinha de ter relação com algo sexual sim. Ela, como falsa em tudo, falsa beata, certamente ao "provar" da vida de mulher casada aquele luto devia ser só fachada mesmo. Ela se entretinha de noite com o seu dildo e, nas noites de lua cheia, ou nas noites em que sentia mais vontade, despia o falso luto para entrar na fantasia de branco e se tornar a mulher de Branco. SERIA PERFEITO!!
Porque Perpétua sempre invejou Tieta e desejou ser ela a amada e desejada pelos homens. Ela desejou TANTO isso que acabou por morar na casa e dormir na cama onde sabe que a irmã se deitou com outro homem e foi feliz. Perpétua é tão invejosa, mas tão invejosa, que para mim só faz sentido que tenha uma vida dupla e que faça pela calada o que apregoa aos outros ser pecado fazer.

Para mim, a Perpétua é que é a mulher de Branco que se não coibia de fazer sexo oral aos homens da cidade e ponto final. :) 

E se na caixa branca nao poder estar um dildo, que esteja a fantasia da mulher de branco... embora isso não seria motivo para quem abriu a caixa saber instantaneamente do que se trata. Por isso... tendo em conta a história inteira das personagens, um Dildo na caixa e Perpétua a vestir-se de Branco em vez de negro faz muito sentido.

 

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