Durante uns 7 a 10 minutos de uma cena toda realizada em plano muito geral, duas personagens filmadas entre contra-luz ou total sombra estão a passear numa herdade enquanto ditam (mesmo) as falas. Nem por um instante consegue-se perceber os seus rostos. Ouvem-se vozes, mas não dá para perceber as bocas a mexer, tão longínquas da lente estão as personagens. Quanto ao enredo, demorei metade do tempo desta cena a tentar perceber se a mulher era invisual. Só quando esta dita a fala de que "conhece quantos degraus existem" é que confirmo que a personagem é invisual. Mas logo a seguir, esta invisual desce uma escadaria e, mesmo de longe, percebe-se que esta cega está a olhar para baixo, para os degraus, que desce um a um (colocando ambos os pés em cada degrau). Assim que chega ao fim, a cabeça volta à posição horizontal. Uma invisual muito bem representada!
Finalmente, rostos! Os actores estão a ser filmados de frente mas, a câmera corta o pescoço a um, mas filma muita parede branca por cima da cabeça deste! E lá estão eles, uns quatro, cada qual sentado (sempre sentados) no seu lugar, a ditar as falas.
Durante todo este tempo, já uns 15 minutos de série, existe uma melodia constantemente a tocar, sem que faça qualquer ligação entre a acção ou a reforce.
Quanto à cenografia, obedece à pobreza da altura, com cenários vazios com dois ou três adereços. Existe uma ou talvez duas boas representações que, como que por milagre, fogem à postura "dictafone" tão característica da altura em que a série foi feita: 1982!
Agora podem pensar: mas porquê esta "dissecação" técnica a uma série portuguesa da década de 80, ainda mais num blogue sobre novelas?
É porque a série faz-me lembrar o estilo de produção e interpretação que, durante anos, caracterizou as nossas produções noveleiras. Excepções feitas para algumas mais famosas e até, mais antigas, outras que apareceram não tinham dinamismo, não tinham cenários, não tinham acção, movimento e pecavam por planos excessivamente afastados e débito de texto em posições estáticas.
A série, de nome Dick Haskins, pretende ser uma espécie de Poirot de Aghata Christie, mas muito longe do nível que a produção britânica "Aghata Christie's Poirot" popularizou em 1989. É engraçada de ver porque não se percebe NADA da história. E, no entanto, continua-se a ver, com fascínio. Más cenas, brigas nada convincentes que incluem murros flácidos, personagens estáticas como estátuas de pedra enquanto são revelados segredos, e, para cúmulo, enquanto o detective (?) relata as suas descobertas, um relógio fora de cena dá sonoramente as horas, abafando por completo as falas que a personagem está a ditar! É lindo de ver! L-I-N-D-O! Faz-me lembrar as maratonas de visionamento de filmes americanos da série B, principalmente os de terror, hoje super ranhosos! :)
Vale pelo esforço. Só posso imaginar as dificuldades técnicas e as limitações que podiam existir nesta altura em televisão. Mas, por outro lado, não posso aceitar isto como desculpa, porque também se fizeram coisas muito boas antes, durante e à volta de 1982. Temos como produção portuguesa os filmes dos anos 40, feitos 40 anos antes desta série! Surgem bem filmados e bem interpretados, com acção e planos de todo o género. No que respeita a novel
Portanto... não há razão para esta série ser tão má feita! Não é como se não se tives

Mas é boa para rir!
Ah,ah,ah! Espreitem que vão perceber...
Ainda não consegui ver a série, mas tenho os episódios gravados para ver assim que tenha oportunidade.
ResponderEliminarRealmente, a impressão com que fiquei dos poucos minutos que vi não foi das melhores... E confesso que, depois destes comentários, estou ainda mais ansioso para ver!
Adoro estas séries "deliciosamente toscas". Acho que me vou divertir bastante...
O blog está otimo!!! Voltei a acompanhar seu blog e a cada dia seus textos estão melhores!
ResponderEliminarEspero que voce comente da estreia de O Astro que iniciou nessa terça-feira e foi o maior sucesso o remake na Rede Globo.
Acesse meu blog: www.peripeciando.wordpress.com